sábado, 18 de abril de 2020

Que coisa...!!!



Que coisa é que na tarde
Me entristece sem ser?
Sinto como se houvesse
Um mal que acontecer.

Mas sinto o mal que vem
Como se já passasse...

Que coisa é que faz isto
Sentir-se e recordar-se?

Talvez que seja a brisa
Que ronda o fim da estrada
Talvez seja o silêncio
Talvez, nem seja nada...

(F. Pessoa)

domingo, 12 de abril de 2020

Um passeio cultural imperdível...!!! Ainda na Bahía.




A última das visitas pelo Estado da Bahía, foi ao "Rio Vermelho", para "um mergulho na história de Jorge Amado"...  

Entrar na casa Museu do escritor baiano Jorge Amado e de sua esposa Zélia Gattai, é, sem dúvida alguma, um  mergulho num rio com um caudal imenso de informação de toda uma vida repleta de estórias, onde não faltam belos e profundos testemunhos, de tantas e tantas vivências, que nos deixam de "alma lavada"...!!!

"Se for de paz, pode entrar", era a primeira abordagem que Jorge e Zélia faziam a quem os visitava...!!!

E é essa a frase que ainda hoje encontramos à chegada, mas, como todos os visitantes são de paz, todos entram e é com muita paz e muita simpatia, que todos são recebidos para penetrarem num belíssimo recanto histórico que revela a cultura do povo baiano num ambiente poético e de muita alegria.

A casa, tudo o que ela contém e a forma como está decorada, dá-nos a sensação de que, a qualquer momento, ao entrarmos numa qualquer dependência, poderemos ser surpreendidos pelos próprios...
Não deixa de ser uma sensação estranha, mas ao mesmo tempo muito boa...!!!
Ali, esquecemo-nos que estamos num museu, porque tudo parece ter vida..., depois, aos poucos, vamos descobrindo o jardim e, cada recanto, cada planta exótica, cada aroma exalado por tudo o que ali existe e que é tão característico daquela terra, impele-nos a parar, fechar os olhos, respirar fundo e pensar: "não vou embora..., quero ficar...", mas nisto, soa de dentro de casa uma voz que anuncia, quase em jeito de chamada: "há um cafézinho acabado de passar e um bolo de fubá ainda quentinho" e, de facto, é mesmo irresistível..., porque até parece que a Zélia Gattai estava na cozinha e que ela própria preparou todos estes mimos para os seus convidados...!!! 
E como é evidente, a uma chamada destas, é obrigatório voltar a entrar, sentar, saborear um café "fresquinho acabado de passar, né?" e continuar à conversa...!!!

Tudo ali é delicioso...!!!

Mas pronto, como tudo o que é bom acaba, chegou o momento da despedida, com a promessa de um dia voltar...









































É evidente que, desta visita, me ficou uma enorme curiosidade por saber mais e mais sobre a vida deste escritor baiano que, desde muito novo, apenas com dez anos de idade, foi descoberto por um seu professor que, a partir de um pequeno texto, lhe reconheceu dotes para a escrita...!!!

Então Vejamos:


Corria o ano de 1923 e Jorge Amado era um dos 370 alunos matriculados no colégio de Jesuítas de São Salvador e fazia parte do grupo dos 100 alunos internos, pelo facto de residir com a sua família em Ilhéus (onde o seu pai era um produtor e comerciante de cacau), uma cidade bem distante da capital do estado.
Jorge Amado não gostava do colégio, não gostava do método de ensino da Ordem que Inácio de Loyola instituíu, mas esse era o método pelo qual todos aprendiam, desde os mais pobres aos aristocratas e que consistia em: copiar, copiar, repetir até à exaustão para memorizar e estudar a gramática de forma aprofundada e pormenorizada, o que, segundo Jorge Amado, fazia com que os alunos odiassem a literatura...!!!

E Jorge Amado não gostava do método de ensino porquê?

Porque naquele colégio o lema era: "Não se lê sem licença". uma frase que o obrigavam a copiar vezes sem conta, sempre que lhe descobriam algum livro que os Jesuítas considerassem "leitura proibida", mas era um castigo que nunca o convenceu a afastar-se das leituras ditas "proibidas", até porque, segundo ele, a literatura descobria-se sempre que se lia uma obra proibida.
Contudo, e como em todos os sistemas, há sempre quem consiga contornar certas medidas que são impostas, também Jorge Amado, em 1923 (na época ainda menino, apenas com 10 anos), teve a sorte de ter como professor um invulgar Padre, de seu nome Cabral, que facultava aos alunos a possibilidade de terem algumas aulas bem diferentes daquilo a que estavam habituados o que para todos era uma experiência única, dado que o Padre Cabral declamava os Lusíadas e, diz Jorge Amado, "os alunos quase não piscavam", tal era a atenção e a importância que davam ao tema.

Ora um dia, o dito professor Padre Cabral pediu aos seus alunos, que apresentassem uma composição sobre o mar. Obedecendo ao pedido do professor (e saudoso da sua terra, da família e de tantas recordações da época em que vivia em Ilhéus), Jorge Amado escreveu um texto pequeno, muito simples, onde descrevia as suas memórias da "Praia Verde do Pontal", nos arredores de Ilheus, onde, ainda bem pequeno, brincava com a filha do canoeiro.
Quando o Padre Cabral trouxe todos os trabalhos corrigidos, deteve-se com a composição do Jorge e "anunciou com ares de solenidade para todos escutarem": 

-"ESTE VAI SER ESCRITOR"-

A partir de então o referido professor, pôs à disposição de Jorge Amado a sua imensa biblioteca o que lhe possibilitou (mesmo às escondidas), ler obras de autores portugueses como: Camilo Castelo Branco, Guerra Junqueiro, Eça de Queiroz e também de autores brasileiros aos quais ele nunca tinha tido acesso.
Foram assim inúteis os castigos que lhe aplicavam por "ler sem licença", mas ele não se importava, era "um leitor insaciável de romances".

Dos grandes sucessos deste Poeta e Escritor, tão bem conhecido em todo o mundo e do que foi a sua vida, tão intensa, tão vivida, desde a saída do referido colégio de Jesuítas, até à sua morte, em 2001, talvez, numa outra oportunidade, venha a escrever algo mais... 

Depois de Tudo...!!!

Com votos de uma boa Páscoa...




"De tudo ficaram três coisas:

A certeza de que estamos sempre a começar...
A certeza de que é preciso continuar...
A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar...

Portanto devemos:

Fazer da interrupção um caminho novo...
Da queda, um passo de dança...
Do medo, uma escada...
Do sonho, uma ponte...
Da procura, um encontro..."


(Fernando Pessoa)



quarta-feira, 1 de abril de 2020

Ainda na cidade de São Salvador....!!!



Estando na Capital do Estado da Bahía, era imperdível uma visita à sua Catedral, a primeira do Brasil, recentemente aberta ao culto e ao público em geral, após terem sido efectuadas, durante largo tempo, grandes obras de restauro.
Detentora de um valioso acervo de arte sacra, é o templo mais grandioso que os Jesuítas edificaram no Brasil (o quarto Colégio Real da Companhia de Jesus)...!!!
A sua construção teve início em 1657, tendo ficado concluída em 1672.
Toda a sua decoração interior foi sendo executada gradualmente (com lindos altares em talha dourada, num total de treze), até ao momento da expulsão da Companhia de Jesus do universo português.
A fachada é toda em pedra de lioz, importada de Portugal e nos nichos sobre as portas estão as imagens de três santos jesuítas: Santo Inácio de Loyola, São Francisco Xavier e São Francisco de Borja.


Faculdade de Medicina
Faculdade de Medicina
Na sequência de um incêndio, em 1801, um dos pátios do antigo Colégio ficou destruído e, na ala restante, foi instalado, em 1808, o Real Hospital. Decorrido quase um século, um novo incêndio obrigou à reconstrução do edifício, desta vez reerguido em estilo eclético para ali instalar a Faculdade de Medicina da Bahía, a primeira do país, fundada em 1808.
















E foi mais uma agradável visita, por terras de Vera Cruz....!!!