domingo, 12 de abril de 2020

Um passeio cultural imperdível...!!! Ainda na Bahía.




A última das visitas pelo Estado da Bahía, foi ao "Rio Vermelho", para "um mergulho na história de Jorge Amado"...  

Entrar na casa Museu do escritor baiano Jorge Amado e de sua esposa Zélia Gattai, é, sem dúvida alguma, um  mergulho num rio com um caudal imenso de informação de toda uma vida repleta de estórias, onde não faltam belos e profundos testemunhos, de tantas e tantas vivências, que nos deixam de "alma lavada"...!!!

"Se for de paz, pode entrar", era a primeira abordagem que Jorge e Zélia faziam a quem os visitava...!!!

E é essa a frase que ainda hoje encontramos à chegada, mas, como todos os visitantes são de paz, todos entram e é com muita paz e muita simpatia, que todos são recebidos para penetrarem num belíssimo recanto histórico que revela a cultura do povo baiano num ambiente poético e de muita alegria.

A casa, tudo o que ela contém e a forma como está decorada, dá-nos a sensação de que, a qualquer momento, ao entrarmos numa qualquer dependência, poderemos ser surpreendidos pelos próprios...
Não deixa de ser uma sensação estranha, mas ao mesmo tempo muito boa...!!!
Ali, esquecemo-nos que estamos num museu, porque tudo parece ter vida..., depois, aos poucos, vamos descobrindo o jardim e, cada recanto, cada planta exótica, cada aroma exalado por tudo o que ali existe e que é tão característico daquela terra, impele-nos a parar, fechar os olhos, respirar fundo e pensar: "não vou embora..., quero ficar...", mas nisto, soa de dentro de casa uma voz que anuncia, quase em jeito de chamada: "há um cafézinho acabado de passar e um bolo de fubá ainda quentinho" e, de facto, é mesmo irresistível..., porque até parece que a Zélia Gattai estava na cozinha e que ela própria preparou todos estes mimos para os seus convidados...!!! 
E como é evidente, a uma chamada destas, é obrigatório voltar a entrar, sentar, saborear um café "fresquinho acabado de passar, né?" e continuar à conversa...!!!

Tudo ali é delicioso...!!!

Mas pronto, como tudo o que é bom acaba, chegou o momento da despedida, com a promessa de um dia voltar...









































É evidente que, desta visita, me ficou uma enorme curiosidade por saber mais e mais sobre a vida deste escritor baiano que, desde muito novo, apenas com dez anos de idade, foi descoberto por um seu professor que, a partir de um pequeno texto, lhe reconheceu dotes para a escrita...!!!

Então Vejamos:


Corria o ano de 1923 e Jorge Amado era um dos 370 alunos matriculados no colégio de Jesuítas de São Salvador e fazia parte do grupo dos 100 alunos internos, pelo facto de residir com a sua família em Ilhéus (onde o seu pai era um produtor e comerciante de cacau), uma cidade bem distante da capital do estado.
Jorge Amado não gostava do colégio, não gostava do método de ensino da Ordem que Inácio de Loyola instituíu, mas esse era o método pelo qual todos aprendiam, desde os mais pobres aos aristocratas e que consistia em: copiar, copiar, repetir até à exaustão para memorizar e estudar a gramática de forma aprofundada e pormenorizada, o que, segundo Jorge Amado, fazia com que os alunos odiassem a literatura...!!!

E Jorge Amado não gostava do método de ensino porquê?

Porque naquele colégio o lema era: "Não se lê sem licença". uma frase que o obrigavam a copiar vezes sem conta, sempre que lhe descobriam algum livro que os Jesuítas considerassem "leitura proibida", mas era um castigo que nunca o convenceu a afastar-se das leituras ditas "proibidas", até porque, segundo ele, a literatura descobria-se sempre que se lia uma obra proibida.
Contudo, e como em todos os sistemas, há sempre quem consiga contornar certas medidas que são impostas, também Jorge Amado, em 1923 (na época ainda menino, apenas com 10 anos), teve a sorte de ter como professor um invulgar Padre, de seu nome Cabral, que facultava aos alunos a possibilidade de terem algumas aulas bem diferentes daquilo a que estavam habituados o que para todos era uma experiência única, dado que o Padre Cabral declamava os Lusíadas e, diz Jorge Amado, "os alunos quase não piscavam", tal era a atenção e a importância que davam ao tema.

Ora um dia, o dito professor Padre Cabral pediu aos seus alunos, que apresentassem uma composição sobre o mar. Obedecendo ao pedido do professor (e saudoso da sua terra, da família e de tantas recordações da época em que vivia em Ilhéus), Jorge Amado escreveu um texto pequeno, muito simples, onde descrevia as suas memórias da "Praia Verde do Pontal", nos arredores de Ilheus, onde, ainda bem pequeno, brincava com a filha do canoeiro.
Quando o Padre Cabral trouxe todos os trabalhos corrigidos, deteve-se com a composição do Jorge e "anunciou com ares de solenidade para todos escutarem": 

-"ESTE VAI SER ESCRITOR"-

A partir de então o referido professor, pôs à disposição de Jorge Amado a sua imensa biblioteca o que lhe possibilitou (mesmo às escondidas), ler obras de autores portugueses como: Camilo Castelo Branco, Guerra Junqueiro, Eça de Queiroz e também de autores brasileiros aos quais ele nunca tinha tido acesso.
Foram assim inúteis os castigos que lhe aplicavam por "ler sem licença", mas ele não se importava, era "um leitor insaciável de romances".

Dos grandes sucessos deste Poeta e Escritor, tão bem conhecido em todo o mundo e do que foi a sua vida, tão intensa, tão vivida, desde a saída do referido colégio de Jesuítas, até à sua morte, em 2001, talvez, numa outra oportunidade, venha a escrever algo mais... 

2 Comentários:

Às 14 de abril de 2020 às 18:58 , Blogger Andradarte disse...

Belas Imagens, da Fotografa da Natureza...
Fique em casa.
Beijo

 
Às 15 de abril de 2020 às 04:30 , Blogger José Patrício disse...

Boa partilha!
Saiu em tempo na revista Vogue um texto de Jorge Amado, de que tive notícia. Assim que a edição em livro, muito bonito, ilustrado, chegou a Portugal, logo o adquiri. Apreciei n'O MENINO GAPIÚNA, mais do que tudo, a referência à «profecia» do professor de Português.
JL

 

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