quarta-feira, 20 de março de 2013

A vida de Camilo Castelo Branco (última parte)......!!!!!



Agrava-se a demência do seu filho Jorge e este é internado no Hospital Conde Ferreira, no Porto, em Agosto de 1886.
Igualmente os males de Camilo se agravam cada vez mais e, moralmente derrotado, a idéia do suicídio começa a surgir como a solução possível para pôr termo à vida, que para ele era já insuportável…..!!!

Num triste e desesperado documento, com data de 22 de Novembro de 1886, Camilo escreve:

“Os incuráveis padecimentos que se vão complicando todos os dias levam-me ao suicídio – único remédio que lhes posso dar. Rodeado de infelicidades de espécie moral, sendo a primeira a insânia de meu filho Jorge e a segunda os desatinos do meu filho Nuno, nada tenho a que me ampare nas consolações da família. A mãe destes dois desgraçados não promete longa vida; e, se eu pudesse arrastar a minha existência até ver Ana Plácido morta, infalivelmente me suicidaria. Não deixarei cair sobre mim essa enorme desventura – a maior, a incompreensível à minha grande compreensão da desgraça. Esta deliberação de me suicidar vem de longe como um pressentimento. Previ, desde os trinta anos, este fim. Receio que chegado o supremo momento não tenha a firmeza de espírito para traçar estas linhas. Antecipo-me à hora final. Quem puder ter a intuição das minhas dores, não me lastime. A minha vida foi tão extraordinariamente infeliz que não poderia acabar como a da maioria dos desgraçados. Quando se ler este papel, eu estarei gozando a primeira hora de repouso. Não deixo nada; deixo um exemplo. Este abismo a que me atirei é o terminus da vereda viciosa por onde as fatalidades me encaminharam. Seja bom e virtuoso quem o puder ser.”

No entanto Camilo continuou a arranjar forças e coragem para suportar o desespero causado por tantas fatalidades, nomeadamente a sua cegueira que estava prestes s dominá-lo, totalmente….

Em carta escrita a Martins Sarmento, datada de 10 de Outubro de 1887, Camilo escreve:

“Dou-lhe a triste nova de que estou quase cego. É a anemia dos olhos congénere da anemia geral. Faço o sacrifício de ir a Lisboa e sem esperanças ouvir os especialistas. Se os de lá não souberem mais do que os do Porto, estou pronto”.

Em cada momento da sua vida travava uma luta constante, entre “alguma” esperança que ainda lhe restava, de conseguir remédio para o seu mal, e o enorme desespero de pensar que a cegueira acabaria por derrota-lo, de vez….

Na época mantinha correspondência com Freitas Fortuna e pelo que escrevia é fácil perceber o seu estado de alma…..

“A desesperação vai-me desfibrando estas poucas cordas da alma que me prendiam à esperança.”
“Olhe que estou piorando por tal maneira que talvez daqui a pouco tempo só possa mandar-lhe notícias da eternidade.”
“Quando me lembro da nossa tranquila vida de Seide, da nossa independência, da nossa brilhante mediania e me confronto com estas trevas e com o que se passa dentro delas, à volta de mim, concebo da vida um tal horror, que não compreendo que a vontade divina influa nestes infernos.”

“Por aqui temos passado (Camilo e Ana Plácido) bem tristes, bem sozinhos, e bem pouco esperançados de que nunca mais volva para nós uma aragem de felicidade.”

Mesmo assim, em constante desespero pelo inferno em que se tornara a vida de ambos, o seu casamento realizou-se, finalmente, no dia 9 de Março de 1888, na residência de Camilo, no Porto, na Rua de Santa Catarina, 458, pelo pároco da Igreja de Santo Ildefonso…!!!

Contudo, nessa época, Camilo é praticamente um inválido….!!!
A esclerose e a cegueira impedem-no de se aplicar à escrita, que era a sua grande paixão e sempre foi o único meio do seu sustento e da sua família.

Já em 1889, vencido pela doença e pela invalidez, Camilo desiste de qualquer actividade e, em 21 Maio desse mesmo ano, como última esperança, dirige um apelo ao especialista de Aveiro (Dr. Edmundo de Magalhães Machado) para que viesse salvá-lo….
“Sou o cadáver representante de um nome que teve alguma reputação gloriosa neste País durante 40 anos de trabalho. Chamo-me Camilo Castelo Branco e estou cego”.
Na sequência deste apelo, o médico foi vê-lo no dia 1 de Junho, de 1889, pelas 13,15h. Depois de o observar e certamente sem notícias minimamente animadoras para lhe dar, disse-lhe:

 “As águas do Gerês deviam fazer-lhe bem”

Pelas 15,15h, Ana Plácido acompanhou o médico até à porta e no momento em que este se despedia, ouviu-se um tiro de revolver…!!!! Camilo veio a falecer pelas 17,00h……!!!
Os últimos momentos da sua vida já Camilo os vivera de uma forma profética nestes versos dedicados aos filhos e que mais tarde Ana Plácido viria a publicar no Jornal  “O Leme”:

“Chega a morte! Vejo-a, sinto-a.
A luz dos olhos se apaga…
Vem, meu filho, abraça e beija
De teu pai a face fria.
Limpa-lhe o rosto orvalhado,
Não de pranto, que eu não choro,
Mas do suor da agonia.
Não me fujas, filho; imprime
Na tua alma esta imagem.
Daqui a pouco à voragem
Resvalou teu pobre pai.
Vem também, santa das dores,
Receber o extremo ai!
Não me vás levar flores
À Sepultura, não vás.
Leva-me os filhos felizes,
Leva-os contigo e verás
Que me aquece a luz da vida
Na sepultura esquecida,
Onde enfim hei de ter paz!”

O vídeo aqui incluído contém algumas fotos tiradas na casa de S. Miguel de Seide e a música do mesmo só poderia ser a do seu compositor preferido: Mozart (Sinfonia nº 25 em Sol menor).

4 Comentários:

Às 21 de março de 2013 às 22:18 , Blogger Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Já li muitas biografias, de grandes artistas com imensos sofrimentos. Sinceramente, Albertina, como a vida de Camilo Castelo Branco, não há nenhuma para se comparar, na dimensão dramática. Este fim, já era de se esperar...tão triste!
Parabéns, pela excelente pesquisa e pela forma como você trouxe a vida e a obra desse grande escritor.
Obrigada, amiga,
um forte abraço!

 
Às 21 de março de 2013 às 22:54 , Blogger Albertina Granja disse...

Olá Lúcia....
Muito obrigada pelos seus comentários....
A "história" da vida de Camilo foi aqui contada de uma forma muito simples, mas sempre numa tentativa de obedecer à cronologia dos acontecimentos....
É evidente que muito mais havia para dizer, mas os factos aqui apresentados foram os que eu considerei mais marcantes e que, no geral, nos dão uma idéia da dimensão do sofrimento do escritor e da sua família.....
Um abraço Lúcia
Tenha um Bom fim de semana

 
Às 28 de março de 2013 às 00:06 , Blogger leandro guedes disse...

Na verdade quando se lê um livro, se vê um filme, se ouve uma música, sabemos apreciar o que neles está exposto. Mas não imaginamos os dramas que estão por detrás dos seus autores, uns mais que outros.
E a vida de Camilo, tão minuciosamente aqui retratada, é de uma dureza impressionante.
Também já fui à Casa de Camilo mais que uma vez, e confesso que impressiona ali entrar, ver a árvore onde seu filho morreu, a cadeira de Camilo onde se suicidou, as costas de outra cadeira onde falta uma parte da verga, devido a uma ferida que exibia nas suas costas, a cama dele e a de Ana Plácido, os seus livros, a sua escrivaninha. Até um revólver que à primeira vista se pensa logo ter sido aquele…, mas que afinal não é. Passear pela casa impressiona
Quanta felicidade aquele dois seres ali sentiram, naquela paz, na companhia um do outro e quanto sofrimento os sufocou e os levou à morte, ele por suicídio e ela por doença, além da perda precoce dos filhos.
As frases que aqui são descritas, de cartas que ele enviava aos amigos, dando conta do seu sofrimento e da sua família, a sua cegueira que o guiava inevitavelmente ao fim, impressionam.
E impressiona também o facto de o médico o ter ido ver, desenganando-o, e antes que chegasse ao portão de saída, acompanhando-o Ana Plácido, se tenha ouvido o tiro fatal.
Belo trabalho. Parabens!

 
Às 28 de março de 2013 às 21:43 , Blogger Albertina Granja disse...

Muito obrigada Leandro pelo seu comentário...
Conforme eu disse na resposta anterior (dada à Lúcia de Paiva), a vida de Camilo foi aqui contada de uma forma muito simples, mas agora reforço dizendo que, além disso, ela foi sobretudo contada de uma forma muito breve...., sem aprofundar certos aspectos e até mesmo sem referir alguns pormenores que você agora descreve no seu comentário,os quais, efectivamente, eu constatei no local e que me impressionaram, mas que nestes meus textos não lhes fiz qualquer alusão....!!!!
Um deles é a árvore que está junto à entrada da casa (que creio tratar-se de uma acácia), árvore essa onde o Jorge (filho mais velho de Camilo), enquanto criança, passava uma grande parte do seu tempo empoleirado, tocando flauta e onde (se diz), veio a morrer.....
Depois, era também à sombra dessa mesma acácia que Camilo se sentava, segundo uma das suas citações:

“A minha vida é sentado debaixo de uma acácia, numa cadeira de cortiça, com três livros que não leio......."

Um outro pormenor que também aqui refere no seu comentário e que igualmente me impressionou, tem a ver com a "dita" cadeira, com um buraco no espaldar, mandado fazer a pedido do seu médico, para que Camilo se sentisse mais confortável, uma vez que uma enorme ferida que tinha nas costas não lhe permitia que se encostasse quando estivesse sentado....

Enfim..., são mil e uma coisas que foram muito sentidas mas que não foram aqui ditas...., no entanto, tal como diz, impressiona passear por aquela casa, percorrer todas as suas dependências, permanecer em silêncio observando não só as suas obras, como também o mobiliário e objectos pessoais que ali se encontram expostos.....!!!!



 

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