A Infância de Camilo Castelo Branco.....
É muito difícil falar sobre a vida de
Camilo Castelo Branco, mas facilitará talvez compreendê-la, se pudermos ler e
meditar sobre alguns excertos retirados da sua vastíssima obra literária,
apreciar alguns dos seus escritos, nomeadamente cartas ou documentos
endereçados a amigos, memórias ou até mesmo pequenos comentários….!!!
Tudo isso dar-nos-á a possibilidade de
entender melhor o sofrimento de toda uma vida, a sua sensibilidade, o seu
carácter….!!!!
Ainda de tenra idade (pouco mais de um
ano), fica órfão de mãe e, a essa enorme lacuna que para sempre marcará a sua
vida, veio juntar-se uma outra…., a perda do pai quando tinha apenas dez anos….
O que a seguir se transcreve demonstra bem
o sofrimento e infelicidade que sempre o acompanharam ao longo da sua vida…..
“Eu nunca tive seio de mãe onde encostar a cabeça”
(em Quatro Horas Inocentes)
“Mae, eu era inda criança,
Já te não vi: morta eras!
Buscou-te amor e esperança
E o coração que me deras”
(em Um Livro)
“Oh meu anjo de amor, que me deixaste
No meu berço a chorar!
Vigia-me do céu, já que na terra
Não pude os teus olhos escutar.
Eu sei que foste mártir de agonias,
Muito antes de mim.
Herança de amarguras me legaste…
Recebo-a, que a sofrer ao mundo vim.”
(em Duas Épocas
na Vida)
Também numa carta que dirigiu ao seu amigo “Visconde de Ouguela”, Camilo escrevia o seguinte:
“Eu que não conheci mãe, aos dez anos já
não tinha pai. Vê tu que mocidade tive e como toda a minha vida se havia de
sentir da esterilidade de emoção com que passei a juventude.”
Numa das suas Obras “No Bom Jesus do Monte”,
Camilo descreve o momento em que se encontra sózinho com o seu pai, já cadáver….
“Entrei, por noite alta, na sala onde o
meu pai estava amortalhado, sem mais companhia que quatro círios de chama
azulada. Ajoelhei, sem orar. Afastei da fronte do cadáver o capuz do hábito e
beijei-lha. Pus também a boca nas mãos glaciais: senti um frio, de que ainda o
coração me guarda a memória: o frio do ambiente dos mortos. Ao meu lado
ninguém. (……) E eu estava ali, destemeroso das sombras que desciam dos ângulos
do tecto à penumbra do clarão oscilatório das tochas. Largo espaço contemplei a
face de meu pai, aformoseada pelo resplandor da aurora do dia eterno. E assim
ponderei as últimas palavras que lhe ouvira, confiadas ao frívolo espírito dos
meus nove anos: (Que será de ti, meu filho, sem ninguém que te ame!.....).
Após tamanha “tempestade”
(como ele próprio classificou), que se abateu sobre a sua família, Camilo é
levado de Lisboa (“sua pátria”, como ele
considerava) para Vila Real (segundo ele, “um torrão agro
e triste do norte”), para ser confiado aos cuidados de uma tia
paterna, onde permaneceu durante quatro anos.
Decorrido este período e após o casamento de sua irmã
com um médico de “Vilarinho da Samardã” – Trás-os-Montes,
Camilo deixa a casa dos tios e passa a viver na companhia da irmã e cunhado.
(Em: "Memórias do Cárcere - II), Camilo Castelo Branco escreve:
"Nesta Samardã passei eu os descuidos e as alegrias da infância, na companhia de minha irmã......."
Também (em Duas Horas de Leitura), escreve o seguinte:
"O meu gosto era pascer o rebanho de casa por aqueles saudosos vales. Todavia, minha irmã opunha-se a este humilde serviço. Dizia-,e coisas que eu não percebia acerca da minha dignidade; repreendia os meus baixos instintos; atraía ao seu voto o marido e o padre e cortava-se o rasteiro voo escondendo de mim a clavina, o polvorinho e os salpicões e a boroa e a cabacinha de água-ardente. Não obstante, eu pedia tudo de empréstimo e ía com as ovelhas para o monte. Passava lá o dia inteiro, sentado nas espinhas daqueles alcantis fragosos, sempre sozinho, cismando sem saber em quê, engolfada a vista nas gargantas dos despenhadeiros".
Aqui ficam então estas breves alusões à forma como cresceu e viveu o período da sua infância.....!!!!
(Em: "Memórias do Cárcere - II), Camilo Castelo Branco escreve:
"Nesta Samardã passei eu os descuidos e as alegrias da infância, na companhia de minha irmã......."
Também (em Duas Horas de Leitura), escreve o seguinte:
"O meu gosto era pascer o rebanho de casa por aqueles saudosos vales. Todavia, minha irmã opunha-se a este humilde serviço. Dizia-,e coisas que eu não percebia acerca da minha dignidade; repreendia os meus baixos instintos; atraía ao seu voto o marido e o padre e cortava-se o rasteiro voo escondendo de mim a clavina, o polvorinho e os salpicões e a boroa e a cabacinha de água-ardente. Não obstante, eu pedia tudo de empréstimo e ía com as ovelhas para o monte. Passava lá o dia inteiro, sentado nas espinhas daqueles alcantis fragosos, sempre sozinho, cismando sem saber em quê, engolfada a vista nas gargantas dos despenhadeiros".
Aqui ficam então estas breves alusões à forma como cresceu e viveu o período da sua infância.....!!!!
4 Comentários:
Camilo Castelo Branco teve uma infância tão infeliz e depois de adulto também teve muitos contratempos.
A forma como morreu também é de arrepiar.
Mas deixou-nos uma obra maravilhosa.
Obrigado Camilo.
Joaquim Cosme
Uma infância nada infantil, já cheia de drama, que o levaram a desenvolver uma obra melancólica mas de uma grande riqueza.
Vou lá, acompanhar essa maravilhosa biografia.
Um abraço.
É verdade....
Camilo deixou-nos uma obra maravilhosa....!!!!
Obrigada Sr. Cosme pelas suas palavras.
Olá Lúcia...
Tudo foi difícil na vida desta "criatura"...
Desde o nascimento à morte.....
Um abraço
Albertina
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