Os dramas da vida de Camilo........
Como atrás ficou dito, para
além do estado de saúde de Ana Plácido (que nos finais de 1879 estava
gravemente doente) e da celeridade com que a cegueira o atingia, Camilo vivia
rodeado de constantes e enormes preocupações relacionadas com o seu filho
Jorge, que revelava sinais de loucura, tornando-se mais notória e desesperante
no ano de 1880.
É o próprio Camilo que o sente e confessa em carta dirigida ao Visconde de Ouguela:
“Principío
a desconfiar que meu filho me está comunicando a demência. Tenho intervalos
negros em que a vida me para e não me sinto na consciência dela. O estado de
Jorge não oferece alguma esperança. Faz-me duplicada compaixão quando me
pergunta se está doudo. Tem querido sair comigo. Já o levei ao Porto; mas a
contemplação do público aterrava-o e pungia-me. (….).Predomina nos seus
delírios a idéia de escrever um livro e tem a convicção de que é um talento
para tudo. Era-o decerto em música e pintura. Desde que enlouqueceu, odiou o
piano e na flauta denota o estado daquela alma. Não imaginas a negrura desta
casa”.
Por outro lado, o seu filho mais novo (Nuno) também não lhe traz grandes alegrias, devido ao seu porte, que Camilo considera muitas vezes de incorrecto e grosseiro, conforme descreve em carta dirigida ao Dr. Vitorino da Mota:
“Eu,
ofendido por grosserias do meu filho, intimei-o a sair daqui com os seus 7
burros, com os seus coches e com os seus lacaios. Se ele tem dignidade e brio,
decerto se retira….”
Em simultâneo são as
dificuldades financeiras que lhe causam também preocupações dramáticas, ao
ponto de pôr a leilão os seus livros (a sua única riqueza), mais de 4.500
volumes, leiloados em Dezembro de 1883.
No entanto, no meio de
tanto sobressalto, em Maio de 1883, a sua nora (Maria Isabel da Costa Macedo)
que casara com o seu filho Nuno em Junho de 1881, dá-lhe uma netinha que passou
a ser o seu enlevo.
Mas não foi muito duradoira
esta felicidade, pois a morte leva a nora e a neta, no ano de 1884, em 30 de
Agosto e 13 de Setembro, respectivamente, deixando Camilo dilacerado pelos
acontecimentos.
“A
criancinha tinha-me dado uma vida e uma alegria de empréstimo. O vazio que
sinto aos 58 anos não há, em toda a natureza, uma sensação real ou quimérica
que a encha.”
(Carta
a Alberto Pimentel)
E resta-lhe chorar o
desaparecimento precoce da neta querida:
“Parecia
dormitar: tinha morrido.
Pedi que
a não levassem no caixão;
Que a
deixassem mirrar e desfazer-se,
Como a
flor se desfaz sem podridão.
Teimavam
em levar-ma, e eu cingi-a
Ao peito
que se abriu pela pressão;
Depois,
pude esconde-la, e sinto-a morta
No meu
despedaçado coração.”
(em Boémia do Espírito)
Um outro pensamento
ditado pela saudade da sua neta:
“A morte
da minha neta dessangrou-me todas as lágrimas.”
(continua)
1 Comentários:
Quanto drama! Vender os livros, "perder "os filhos, ver a neta perecer...é demasiado sofrimento, para suportar! Pobre homem!
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial