terça-feira, 19 de março de 2013

Os dramas da vida de Camilo........


Como atrás ficou dito, para além do estado de saúde de Ana Plácido (que nos finais de 1879 estava gravemente doente) e da celeridade com que a cegueira o atingia, Camilo vivia rodeado de constantes e enormes preocupações relacionadas com o seu filho Jorge, que revelava sinais de loucura, tornando-se mais notória e desesperante no ano de 1880. 



É o próprio Camilo que o sente e confessa em carta dirigida ao Visconde de Ouguela:

“Principío a desconfiar que meu filho me está comunicando a demência. Tenho intervalos negros em que a vida me para e não me sinto na consciência dela. O estado de Jorge não oferece alguma esperança. Faz-me duplicada compaixão quando me pergunta se está doudo. Tem querido sair comigo. Já o levei ao Porto; mas a contemplação do público aterrava-o e pungia-me. (….).Predomina nos seus delírios a idéia de escrever um livro e tem a convicção de que é um talento para tudo. Era-o decerto em música e pintura. Desde que enlouqueceu, odiou o piano e na flauta denota o estado daquela alma. Não imaginas a negrura desta casa”.

Por outro lado, o seu filho mais novo (Nuno) também não lhe traz grandes alegrias, devido ao seu porte, que Camilo considera muitas vezes de incorrecto e grosseiro, conforme descreve em carta dirigida ao Dr. Vitorino da Mota:


“Eu, ofendido por grosserias do meu filho, intimei-o a sair daqui com os seus 7 burros, com os seus coches e com os seus lacaios. Se ele tem dignidade e brio, decerto se retira….”
Em simultâneo são as dificuldades financeiras que lhe causam também preocupações dramáticas, ao ponto de pôr a leilão os seus livros (a sua única riqueza), mais de 4.500 volumes, leiloados em Dezembro de 1883.

No entanto, no meio de tanto sobressalto, em Maio de 1883, a sua nora (Maria Isabel da Costa Macedo) que casara com o seu filho Nuno em Junho de 1881, dá-lhe uma netinha que passou a ser o seu enlevo.

Mas não foi muito duradoira esta felicidade, pois a morte leva a nora e a neta, no ano de 1884, em 30 de Agosto e 13 de Setembro, respectivamente, deixando Camilo dilacerado pelos acontecimentos.

“A criancinha tinha-me dado uma vida e uma alegria de empréstimo. O vazio que sinto aos 58 anos não há, em toda a natureza, uma sensação real ou quimérica que a encha.”
                                                   (Carta a Alberto Pimentel)

E resta-lhe chorar o desaparecimento precoce da neta querida:

 “Parecia dormitar: tinha morrido.
Pedi que a não levassem no caixão;
Que a deixassem mirrar e desfazer-se,
Como a flor se desfaz sem podridão.

Teimavam em levar-ma, e eu cingi-a
Ao peito que se abriu pela pressão;
Depois, pude esconde-la, e sinto-a morta
No meu despedaçado coração.”

(em Boémia do Espírito)

Um outro pensamento ditado pela saudade da sua neta:

“A morte da minha neta dessangrou-me todas as lágrimas.”

(continua)

1 Comentários:

Às 21 de março de 2013 às 22:08 , Blogger Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Quanto drama! Vender os livros, "perder "os filhos, ver a neta perecer...é demasiado sofrimento, para suportar! Pobre homem!

 

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial