A vida de Camilo na casa de S. Miguel de Seide....
Antes de
mais é bom recordar que hoje, dia 16 de Março, de 2013, faz precisamente 188
anos que nasceu Camilo Castelo Branco…
Mas retomando à sua
vida em S. Miguel de Seide, foi nesta casa que Camilo viria a fazer a sua
residência “quase permanente”, durante 27 anos, até ao momento do seu suicídio…
É certo que muitas
vezes se ausentava, porque uma das suas grandes preocupações era o sustento e a
educação dos filhos e essa preocupação fez com que os levasse para Coimbra e aí
ficasse com eles o tempo que considerava necessário, durante os períodos
lectivos….
Também a sua doença o
levou muitas vezes de terra em terra, em busca da saúde que parecia afastar-se
dele cada vez mais, chegando mesmo a estar internado numa casa de saúde em
Braga…..
Mas findas as aulas dos
seus filhos em Coimbra, voltava a Seide e meditava, quer na sua doença, quer na
necessidade de trabalhar.
“A minha
vida é sentado debaixo de uma acácia, numa cadeira de cortiça, com três livros
que não leio. Dantes, fumava e distraía-me a meditar na intoxicação da
nicotina; agora já nem fumar posso: o
cérebro azia-me e fico com uma modorra dolorosa e estúpida”
Desde muito novo que
Camilo começou a perceber que tinha problemas de visão, ao ponto de, ainda no
cárcere, pedir algumas vezes que o deixassem sair da cela e dos corredores
húmidos e escuros para apanhar um pouco de sol e ver a luz do dia nos pátios da
Cadeia, pois já nessa época começara a sentir-se ameaçado pela cegueira….
Em carta dirigida ao
Visconde de Ouguela, Camilo escreve:
“Passo
mal. Não paro. As noites são intoleráveis. Se eu fosse só, como devia ser se
tivesse juízo, já tinha resolvido isto sumariamente. Três vezes já fugi da Foz,
e voltei. Não posso ler nem escrever.”
Mas além do sofrimento
físico acresceram muitas dores morais que o consumiam….
Em 1877 (17 de Setembro),
morre Manuel Plácido (filho de Ana Plácido), a quem Camilo queria como se de um
filho se tratasse…., apenas com 19 anos, na sequência de uma pneumonia….
“Eu tinha
assistido aos paroxismos de Manuel Plácido – aquele moço gentil que, cinco dias
antes, era ainda a exuberante alegria da felicidade sem intercadências de
tristeza – a flor dos dezanove anos com a raíz já ferida de morte e a corola
cheia de perfumes. (…) Desde aquele instante, as minhas lágrimas só pode
estancá-las o pejo de as mostrar.”
(em: Cenas da Hora Final)
Foi a 17 de Setembro de
1877
“Ah!
perguntas se me lembro
Daquela enorme
desgraça!
Nunca da
mente me passa
Dezassete
de Setembro
Ouço os
gemidos cortados
Da lancinante
agonia;
Vejo-lhe
os olhos vidrados
Na órbita
cavada e fria.
E a
saudade a procura-lo
Nas estrelas;
e a razão
A dizer:
Queres achá-lo?
Procura-o
na podridão.”
Depois, o estado geral
de Camilo agrava-se em 1878 e, nesse mesmo ano, um descarrilamento do comboio
entre S. Romão e Ermesinde, pôs em risco a vida do Escritor.
Para cúmulo, os seus
olhos deterioram-se progressivamente e, pelos fins de 1879, Ana Plácido fica
gravemente enferma.
Nesssa altura Camilo
escreve ao Cónego Sena Freitas:
“Ana
Plácido tem uma angina pectoris. Eu
considero-a perdida. Tenho dois filhos desta Senhora. Um deles é adulterino;
está privado de lhe suceder nos bens. Além disso, se ela morre, a saudade ha-de
pungir-me com o remorso de a não ter honrado aos olhos dos filhos e do mundo.
Eu queria que V. Exª me obtivesse licença do seu arcebispo para eu a poder receber.
(…). Escrevo-lhe às duas da manhã ouvindo-a gemer nas agonias do coração.”
Contudo, e não obstante
ter sido concedida a licença para que Camilo se casasse com Ana Plácido, o
casamento ficou adiado, devido a outras situações de grande preocupação e
sofrimento que vieram a seguir-se na sua vida……!!!
(continuação no próximo post)
(continuação no próximo post)
3 Comentários:
Boa Páscoa...Amanhã vamos à viagem do Solstício...
Que traga um bom sol para o passeio.
Boa viagem para vocês Andrade...
Que seja um belo passeio com muito sol......
Uma Páscoa feliz
Beijinhos para ambos
Albertina
Esta etapa é por demais comovente.Quanto sofrimento, nas perdas. Além de estar perdendo a visão. Mais o grande peso de não ter oficializado a união com a amada e perante os filhos. Um vida dolorosa!
Que biografia tão rica!
Vou ler o seguimento...
Um abraço!
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