domingo, 5 de junho de 2011

MÃE

Este texto é dedicado a todos aqueles que, infelizmente, já passaram por momentos como este..... (momentos de perda e ao mesmo tempo de uma enorme revolta e de luta por não se querer perder....), tão bem descrito e evidenciado neste belo poema de Miguel Torga....


Mãe:
Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada?

Como as estátuas, que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
Que não tem coração dentro do peito.

Chamo aos gritos por ti — não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.

Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!

(Miguel Torga, in 'Diário IV')

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