D. VICENTE DA CÂMARA
Gostaria muito de poder escrever sobre o Fado aristocrático…..
Inicialmente era essa a intenção, mas ao que parece essa figura do Fado não existe, existem sim, aristocratas fadistas…
O Fado é do Povo e por isso não é aristocrático, mesmo quando cantado por um fidalgo.
Vicente da Câmara, patriarca da dinastia dos Câmaras, é uma referência incontornável na história do fado.
Nasceu em berço aristocrata, filho de D. João da Câmara, notável radialista e locutor da rádio portuguesa e cresce sob influência de uma educação marcadamente ligada ao Fado, em particular D. João do Carmo de Noronha, seu tio-avô e sua tia Maria Teresa de Noronha.
É portanto naturalmente que entra nos meandros do Fado e, em 1948, com 20 anos de idade, ganha um concurso e abre as difíceis portas da Emissora Nacional.
Dois anos mais tarde assina o primeiro contrato discográfico com a editora Valentim de Carvalho e, a partir de então, grava êxitos como o “FADO DAS CALDAS” e “VARINA”.
Progressista do Fado castiço, o mais tradicional de Lisboa, era dado ao improviso e destacou-se pela sua voz timbrada, pela naturalidade com que interpreta as suas músicas e sobretudo pela utilização de “melismas” (sucessão de várias notas cantadas na mesma clave), o que é uma raridade no Fado.
O seu maior sucesso “A moda das tranças pretas”, apresentado no vídeo anterior, é sem dúvida um ex-líbris do fado castiço, no entanto outros há no seu repertório que continuam igualmente a encantar todos aqueles que gostam de fado, pelo que aqui não poderia ficar esquecido, entre outros “O Remoinho da Vida”.
Vicente da Câmara, pai e avô dos também fadistas José, Manuel e Teresa da Câmara, é um dos poucos fadistas restantes da geração do fado aristocrata, que completou 60 anos de carreira, em 2009.
A propósito de aristocracia, é de referir que, em determinada altura, Vicente da Câmara fez a seguinte pergunta e ele próprio respondeu desta forma:
“O que é a aristocracia?
A aristocracia tanto pode estar no povo como noutra coisa qualquer. (...) O aristocrata é aquele que sobressaíu”.
De certa forma, este conceito de Vicente da Câmara vai de encontro ao ponto de vista defendido por Aristóteles que chegou a afirmar que:
“…..a aristocracia é o poder confiado aos melhores cidadãos, sem distinções de nascimento ou riqueza….”
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