Estácio da Veiga......
(Estácio da Veiga)
Continuando
a lembrar aqui, os escritores e poetas Algarvios, venho hoje, na sequência de
uma “dica” dada pelo meu caro amigo Joaquim Cosme, lembrar o arqueólogo e escritor
português Estácio da Veiga (também ele natural de Tavira onde nasceu a
6 de Maio de 1828), através deste belíssimo poema que nos conta uma lenda
sobre a “Fonte Santa”…
Era
de maio uma tarde,
De taes
flores perfumada
Que a
Virgem Mãe do Rosário
De tanto
enlevo enlevada
Junto à
margem de um ribeiro
Céu e
terra contemplava.
Nas águas
que ali corriam,
Via-se
ella retratada,
E dos
mirtaes e roseiras
Que o
ribeiro refrescava,
Uma
capella tecera
Para a
Senhora da Orada.
Tecida que
era a capella,
Logo ali
se ausentara,
Levando no
seu regaço
O Filhinho
de su’alma.
Indo em
meio do caminho
Grande
calôr apertava;
A água o
Menino pedia,
Mas sua
Mãe lh’a não dava,
Que dentre
aquellas estevas
Olho d’água
não brotava.
Crescia a
sede, crescia,
E então a
Virgem parava.
Lança
olhos á ventura,
Vê uma rocha
escarpada,
Onde o sol
dava de face
Com tal
ardor que crestava!
Palavras
que a Virgem disse,
Logo pelo
céu entraram,
E o
rochedo que as ouvira,
Em fonte
se transformara.
O caso é
que em bem pouco
Água tão
fresca jorrava,
Que aos
pés da Santa corria,
Como quem
lhe os pés beijava.
Bebendo
que era o Menino,
Toda a
fonte se cercava
De
alecrins e mangeronas.
E rosas de
toda a casta;
Desde
então ficou a fonte
Chamada a
fonte fadada.
Dera-lhe a
Virgem tres chaves,
Uma de
oiro, e as mais de prata.
Uma para
ser aberta,
Outra para
ser fechada,
E outra
para ali guardar
Almas
puras como agua.
Das almas
que a Santa Virgem
Muitas
vezes lá guardava,
Ficou o
povo chamando
Á fonte – “fonte
das almas”.
Tal como
Emiliano da Costa, Estácio da Veiga teve como berço a bela cidade banhada pelo
Rio Gilão, tendo vindo a falecer em Lisboa, no dia 7 de Dezembro de 1891.
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