quinta-feira, 6 de março de 2014

De novo, Miguel Torga...

Nunca me canso de ler Torga...!!!
Gosto de tudo o que escreveu...!!! Tudo para mim faz sentido...
Podia passar dias a fio a ler os seus poemas, os seus pensamentos..., que nunca me cansaria...!!!


"Livro de Horas", é mais um dos seus belos poemas, que a seguir transcrevo:

LIVRO DE HORAS

Aqui, diante de mim,
Eu, pecador, me confesso 
De ser assim como sou. 
Me confesso o bom e o mau 
Que vão ao leme da nau 
Nesta deriva em que vou. 

Me confesso 
Possesso 
De virtudes teologais, 
Que são três, 
E dos pecados mortais, 
Que são sete, 
Quando a terra não repete 
Que são mais. 

Me confesso 
O dono das minhas horas. 
O das facadas cegas e raivosas, 
E o das ternuras lúcidas e mansas. 
E de ser de qualquer modo 
Andanças 
Do mesmo todo. 

Me confesso de ser charco 
E luar de charco, à mistura. 
De ser a corda do arco 
Que atira setas acima 
E abaixo da minha altura. 

Me confesso de ser tudo 
Que possa nascer em mim. 
De ter raízes no chão 
Desta minha condição. 
Me confesso de Abel e de Caim. 

Me confesso de ser Homem. 
De ser um anjo caído 
Do tal Céu que Deus governa; 
De ser um monstro saído 
Do buraco mais fundo da caverna. 

Me confesso de ser eu. 
Eu, tal e qual como vim 
Para dizer que sou eu 
Aqui, diante de mim! 

(Miguel Torga, in 'O Outro Livro de Job')

1 Comentários:

Às 7 de março de 2014 às 17:16 , Blogger Andradarte disse...

Sobre o Livro de Job...perguntava um leitor no Google....
'''Porque não consigo ler o livro todo''
Eu anda procurei, mas também não consegui...
Belo poema

 

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial