sábado, 16 de março de 2013

A vida de Camilo na casa de S. Miguel de Seide....



Antes de mais é bom recordar que hoje, dia 16 de Março, de 2013, faz precisamente 188 anos que nasceu Camilo Castelo Branco…

Mas retomando à sua vida em S. Miguel de Seide, foi nesta casa que Camilo viria a fazer a sua residência “quase permanente”, durante 27 anos, até ao momento do seu suicídio…

É certo que muitas vezes se ausentava, porque uma das suas grandes preocupações era o sustento e a educação dos filhos e essa preocupação fez com que os levasse para Coimbra e aí ficasse com eles o tempo que considerava necessário, durante os períodos lectivos….

Também a sua doença o levou muitas vezes de terra em terra, em busca da saúde que parecia afastar-se dele cada vez mais, chegando mesmo a estar internado numa casa de saúde em Braga…..

Mas findas as aulas dos seus filhos em Coimbra, voltava a Seide e meditava, quer na sua doença, quer na necessidade de trabalhar.

“A minha vida é sentado debaixo de uma acácia, numa cadeira de cortiça, com três livros que não leio. Dantes, fumava e distraía-me a meditar na intoxicação da nicotina;  agora já nem fumar posso: o cérebro azia-me e fico com uma modorra dolorosa e estúpida”

Desde muito novo que Camilo começou a perceber que tinha problemas de visão, ao ponto de, ainda no cárcere, pedir algumas vezes que o deixassem sair da cela e dos corredores húmidos e escuros para apanhar um pouco de sol e ver a luz do dia nos pátios da Cadeia, pois já nessa época começara a sentir-se ameaçado pela cegueira….

Em carta dirigida ao Visconde de Ouguela, Camilo escreve:

“Passo mal. Não paro. As noites são intoleráveis. Se eu fosse só, como devia ser se tivesse juízo, já tinha resolvido isto sumariamente. Três vezes já fugi da Foz, e voltei. Não posso ler nem escrever.”

Mas além do sofrimento físico acresceram muitas dores morais que o consumiam….

Em 1877 (17 de Setembro), morre Manuel Plácido (filho de Ana Plácido), a quem Camilo queria como se de um filho se tratasse…., apenas com 19 anos, na sequência de uma pneumonia….


“Eu tinha assistido aos paroxismos de Manuel Plácido – aquele moço gentil que, cinco dias antes, era ainda a exuberante alegria da felicidade sem intercadências de tristeza – a flor dos dezanove anos com a raíz já ferida de morte e a corola cheia de perfumes. (…) Desde aquele instante, as minhas lágrimas só pode estancá-las o pejo de as mostrar.”
                                                       (em: Cenas da Hora Final)

Foi a 17 de Setembro de 1877

“Ah! perguntas se me lembro
Daquela enorme desgraça!
Nunca da mente me passa
Dezassete de Setembro

Ouço os gemidos cortados
Da lancinante agonia;
Vejo-lhe os olhos vidrados
Na órbita cavada e fria.

E a saudade a procura-lo
Nas estrelas; e a razão
A dizer: Queres achá-lo?
Procura-o na podridão.”

Depois, o estado geral de Camilo agrava-se em 1878 e, nesse mesmo ano, um descarrilamento do comboio entre S. Romão e Ermesinde, pôs em risco a vida do Escritor.

Para cúmulo, os seus olhos deterioram-se progressivamente e, pelos fins de 1879, Ana Plácido fica gravemente enferma.

Nesssa altura Camilo escreve ao Cónego Sena Freitas:

“Ana Plácido tem uma  angina pectoris. Eu considero-a perdida. Tenho dois filhos desta Senhora. Um deles é adulterino; está privado de lhe suceder nos bens. Além disso, se ela morre, a saudade ha-de pungir-me com o remorso de a não ter honrado aos olhos dos filhos e do mundo. Eu queria que V. Exª me obtivesse licença do seu arcebispo para eu a poder receber. (…). Escrevo-lhe às duas da manhã ouvindo-a gemer nas agonias do coração.”

Contudo, e não obstante ter sido concedida a licença para que Camilo se casasse com Ana Plácido, o casamento ficou adiado, devido a outras situações de grande preocupação e sofrimento que vieram a seguir-se na sua vida……!!!

(continuação no próximo post)




3 comentários:

  1. Boa Páscoa...Amanhã vamos à viagem do Solstício...
    Que traga um bom sol para o passeio.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Boa viagem para vocês Andrade...
      Que seja um belo passeio com muito sol......
      Uma Páscoa feliz
      Beijinhos para ambos
      Albertina

      Eliminar
  2. Esta etapa é por demais comovente.Quanto sofrimento, nas perdas. Além de estar perdendo a visão. Mais o grande peso de não ter oficializado a união com a amada e perante os filhos. Um vida dolorosa!
    Que biografia tão rica!
    Vou ler o seguimento...
    Um abraço!

    ResponderEliminar