sexta-feira, 8 de março de 2013

A Infância de Camilo Castelo Branco.....



É muito difícil falar sobre a vida de Camilo Castelo Branco, mas facilitará talvez compreendê-la, se pudermos ler e meditar sobre alguns excertos retirados da sua vastíssima obra literária, apreciar alguns dos seus escritos, nomeadamente cartas ou documentos endereçados a amigos, memórias ou até mesmo pequenos comentários….!!!

Tudo isso dar-nos-á a possibilidade de entender melhor o sofrimento de toda uma vida, a sua sensibilidade, o seu carácter….!!!!

Ainda de tenra idade (pouco mais de um ano), fica órfão de mãe e, a essa enorme lacuna que para sempre marcará a sua vida, veio juntar-se uma outra…., a perda do pai quando tinha apenas dez anos….

O que a seguir se transcreve demonstra bem o sofrimento e infelicidade que sempre o acompanharam ao longo da sua vida…..

 “Eu nunca tive seio de mãe onde encostar a cabeça”
                                               (em Quatro Horas Inocentes)

“Mae, eu era inda criança,
Já te não vi: morta eras!
Buscou-te amor e esperança
E o coração que me deras”
                                (em Um Livro)

“Oh meu anjo de amor, que me deixaste
No meu berço a chorar!
Vigia-me do céu, já que na terra
Não pude os teus olhos escutar.

Eu sei que foste mártir de agonias,
Muito antes de mim.
Herança de amarguras me legaste…
Recebo-a, que a sofrer ao mundo vim.”
                                (em Duas Épocas na Vida)


Também numa carta que dirigiu ao seu amigo “Visconde de Ouguela”, Camilo escrevia o seguinte:


“Eu que não conheci mãe, aos dez anos já não tinha pai. Vê tu que mocidade tive e como toda a minha vida se havia de sentir da esterilidade de emoção com que passei a juventude.”


Numa das suas Obras No Bom Jesus do Monte”, Camilo descreve o momento em que se encontra sózinho com o seu pai, já cadáver….


“Entrei, por noite alta, na sala onde o meu pai estava amortalhado, sem mais companhia que quatro círios de chama azulada. Ajoelhei, sem orar. Afastei da fronte do cadáver o capuz do hábito e beijei-lha. Pus também a boca nas mãos glaciais: senti um frio, de que ainda o coração me guarda a memória: o frio do ambiente dos mortos. Ao meu lado ninguém. (……) E eu estava ali, destemeroso das sombras que desciam dos ângulos do tecto à penumbra do clarão oscilatório das tochas. Largo espaço contemplei a face de meu pai, aformoseada pelo resplandor da aurora do dia eterno. E assim ponderei as últimas palavras que lhe ouvira, confiadas ao frívolo espírito dos meus nove anos: (Que será de ti, meu filho, sem ninguém que te ame!.....).


Após tamanha “tempestade” (como ele próprio classificou), que se abateu sobre a sua família, Camilo é levado de Lisboa (“sua pátria”, como ele considerava) para Vila Real (segundo ele, “um torrão agro e triste do norte”), para ser confiado aos cuidados de uma tia paterna, onde permaneceu durante quatro anos.

Decorrido este período e após o casamento de sua irmã com um médico de  “Vilarinho da Samardã” – Trás-os-Montes, Camilo deixa a casa dos tios e passa a viver na companhia da irmã e cunhado.


(Em: "Memórias do Cárcere - II), Camilo Castelo Branco escreve:

"Nesta Samardã passei eu os descuidos e as alegrias da infância, na companhia de minha irmã......."


Também (em Duas Horas de Leitura), escreve o seguinte:


"O meu gosto era pascer o rebanho de casa por aqueles saudosos vales. Todavia, minha irmã opunha-se a este humilde serviço. Dizia-,e coisas que eu não percebia acerca da minha dignidade; repreendia os meus baixos instintos; atraía ao seu voto o marido e o padre e cortava-se o rasteiro voo escondendo de mim a clavina, o polvorinho e os salpicões e a boroa e a cabacinha de água-ardente. Não obstante, eu pedia tudo de empréstimo e ía com as ovelhas para o monte. Passava lá o dia inteiro, sentado nas espinhas daqueles alcantis fragosos, sempre sozinho, cismando sem saber em quê, engolfada a vista nas gargantas dos despenhadeiros".




Aqui ficam então estas breves alusões à forma como cresceu e viveu o período da sua infância.....!!!!


4 comentários:

  1. Camilo Castelo Branco teve uma infância tão infeliz e depois de adulto também teve muitos contratempos.
    A forma como morreu também é de arrepiar.
    Mas deixou-nos uma obra maravilhosa.
    Obrigado Camilo.
    Joaquim Cosme

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    1. É verdade....
      Camilo deixou-nos uma obra maravilhosa....!!!!
      Obrigada Sr. Cosme pelas suas palavras.

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  2. Uma infância nada infantil, já cheia de drama, que o levaram a desenvolver uma obra melancólica mas de uma grande riqueza.
    Vou lá, acompanhar essa maravilhosa biografia.
    Um abraço.

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    1. Olá Lúcia...
      Tudo foi difícil na vida desta "criatura"...
      Desde o nascimento à morte.....
      Um abraço
      Albertina

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